Hoje vivemos em um mundo globalizado onde as informações circulam com rapidez imensurável. Pela internet, somos bombardeados diariamente por conteúdos visuais que geram em nós um mar de emoções e sentimentos. Estes materiais são armazenados em nossa memória e pouco a pouco mudam a forma como enxergamos e interpretamos o mundo a nossa volta.
O início do século XXI confirma a existência de um novo tipo de consumidor. Fomentados pelos movimentos de design vanguardistas dos meados do século 80, esses consumidores adotam uma identidade de comportamento que os levam a consumir determinados produtos por razões que vão além da sua funcionalidade propriamente dita. A maneira de se relacionar com o meio à sua volta, seus princípios básicos de estética, a sua memória cognitiva, entre outros vários fatores, despertam grandes desejos de consumo que demandam para eles um produto específico.
Diante disto, conclui-se que não há padrão de comportamento ou regras para o consumo do design, cada ser humano processa e interpreta de forma individual a informação fornecida e armazenada em sua memória e converte isto em desejo. Em um mercado recheado de variedades, que possibilita múltiplas escolhas, o consumidor se sente à vontade para aquela com qual ele mais se identifica.
Atentos, os novos designers flutuam sobre os vários estilos presentes no cenário atual, podendo ou não, focar os seus trabalhos em um determinado. Observa-se que estes, têm se preocupado cada vez mais em resgatar a produção manufaturada, artesanal, em escala não industrial. Uma vez que, valorizando o processo como um todo e não apenas o produto final, se chega a produtos carregados de identidade e primorosos em sua execução, fugindo do produto super rentável que atendia apenas as demandas do mercado. Peças que de fato são o desejo de consumo de alguém e a cereja do bolo em um projeto de interiores.
Seja no design de produto ou no design de interiores, a estética contemporânea, na maioria das vezes, é composta pela madeira em contraste a outros elementos. A madeira dá flexibilidade na criação e na composição das peças de mobiliário e dos ambientes. Encontramos a matéria prima em estado maciço, em chapas de compensado, em lâminas ou até mesmo na forma artificial, cada tipo para uma finalidade determinada.
Estando presente no ambiente, a madeira, traz aconchego e o enobrece. Cada tipo de madeira possui uma propriedade. Sua cor, o desenho dos veios, ou até mesmo sua textura, bem trabalhados dentro do contexto destacam a peça e podem ser o ponto de partida criativo para o projeto, que dessa forma provavelmente será único e original.
Projetos originais tem o grande poder de conquistar e atrair consumidores em potencial que estão em busca de identidade. A madeira está diretamente ligada a esse fator diferencial. É exatamente por isso que é tão presente nos estilos mais consagrados do design e da arquitetura.
A madeira é realmente especial. Dentre os vários materiais disponíveis para a construção é a única renovável, possui baixíssima energia agregada e é bem versátil. Em forma de chapas pode se fazer revestimentos internos e móveis planejados, suas réguas compõem coberturas, lambris e assoalhos, suas toras servem de estruturas e dão vida às peças de mobiliário. Se bem explorados, seus encaixes dão toques especiais nos acabamentos das peças.
Para consumir a madeira sem culpa, é de extrema importância saber a sua procedência. Madeiras sem procedência podem ter origem ilegal, e contribuem para o desmatamento que por sua vez desencadeiam uma série de malefícios para o meio ambiente. As madeiras encontradas no mercado certificado são provenientes de áreas reflorestadas e ecologicamente sustentáveis. Os grandes fornecedores investem alto em tecnologias que potencializam o aproveitamento da madeira em seu produto, visando qualidade e sustentabilidade.
Digamos que a madeira é insubstituível e se manterá em alta por muitos e muitos anos, dadas as perspectivas atuais. Parafraseando uma frase de A.W.N Pugin, “na arquitetura mais pura o menor detalhe deve conter um significado ou servir um propósito”, digo que os mínimos detalhes, seja no design de interiores ou em peças de design, fazem toda diferença e carregam a identidade do todo, e nesses termos a madeira tem papel fundamental.
Ricardo Rangel
Arquiteto e Designer